Ortónimo
“Ela Canta Pobre Ceifeira”
Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz à o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida.
Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Na poesia de Fernando Pessoa Ortónimo, os temas mais evidentes são:
-O fingimento Poético
-Dor de pensar
-Nostalgia de infância
Dor de Pensar
“Dor de pensar” é um dos temas tratados na poesia de Fernando Pessoa Ortónimo.
Tendo consciência de que é um homem que pensa demais, Pessoa deseja pensar menos para conseguir sentir mais. Mas, como na realidade tem uma necessidade permanente de pensar, ele sente-se frustrado.
No poema “Ela canta, pobre ceifeira”, o sujeito poético deseja ter a “alegre inconsciência” da ceifeira, ou seja, ser inconsciente porque só assim é feliz e ter a “consciência disso” porque assim pode pensar e ser feliz.
Pessoa formula ambição impossível de se tornar conscientemente inconsciente.
Nostalgia de infância
A infância é um dos temas tratados na poesia de Fernando Pessoa.
Pessoa sente nostalgia pelo facto de ter perdido o mais fantastico da infância, o único momento possível de felicidade.
Ele gostava de ter a infância das crianças qu brincam na rua e sente saudade de uma ternura que lhe passou ao lado. Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossiveis restando-lhe um profundo desencanto.
Para Fernando Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.